sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Tecnologia Social Pais chega à Amazônia

Com mais de 5 mil unidades implementadas em 14 estados brasileiros, o sistema de Produção Agroeocológica Integrada e Sustentável (Pais) enfrenta seu primeiro teste amazônico em Rondônia.
Um terreno preferencialmente plano com cerca de 5 mil m2, uma fonte de água próxima e presença de luz na maior parte do dia. Fora isso, tudo é feito para se adaptar ao Pais, sistema de produção orgânica de hortaliças, frutas e pequenos animais voltado à agricultura familiar. Quem garante é Ronaldo Nina, gestor do Pais em Porto Velho (RO). Com cem unidades já implementadas, o município é o primeiro da Amazônia a receber a Tecnologia Social, cujo desafio agora é adaptar-se a solos úmidos, jovens e com pouca espessura para a agricultura convencional, além de fortes temperaturas e regimes diferenciados de chuva.
Realizado com base em convênio entre Sebrae, Fundação Banco do Brasil e Ministério da Integração Nacional, incluindo também parcerias locais, o Pais conta atualmente com mais de 5 mil unidades implementadas em comunidades e assentamentos de 14 estados brasileiros. O objetivo é promover um sistema de produção orgânica de hortaliças e frutas em torno de um sistema de anéis destinados a culturas diferentes e complementares, valendo-se de insumos da própria propriedade em todo o processo produtivo. O centro é utilizado para a criação de pequenos animais, como galinhas e patos, e a irrigação é feita por gotejamento.
A cartilha de implementação do Pais já avisa que a escolha das espécies a serem cultivadas deve considerar o potencial produtivo da região, as condições do solo e do clima, a cultura alimentar da localidade e as potencialidades de consumo. E a reaplicação do Pais, avisa Nina, pode ser especialmente relevante para a região diante da lógica produtiva que tem alimentado a devastação na Amazônia. É que lá ainda predomina o uso de agrotóxicos e o processo de produção de “corte e queima”, onde o colono geralmente queima a floresta para a produção de pequenas monoculturas, que se tornam improdutivas em pouco mais de dois anos.
“Uma vez esgotada a produção, o pequeno produtor acaba tendo de abandonar a terra em busca de uma nova área, destruindo tudo sem que isso signifique nem a geração de uma renda mínima para ele e a família. Isso sem falar no uso de agrotóxicos”, alerta Nina. O Pais, por sua vez, dispensa o emprego de agroquímicos, queimadas e desmatamentos, aliando a criação de animais com a produção vegetal a partir de insumos da própria propriedade em todo o processo produtivo. “Para uma região cada vez mais visada como a Amazônia, é uma ótima opção”, defende.
A escolha por Porto Velho não foi à toa, diz. Com uma área de 34 mil km², o município – maior que os estados de Sergipe e Alagoas – acaba de entrar em um novo ciclo econômico. E parte do desafio, avisa, será abastecer de alimentos a capital que mais cresce no Brasil. O salto de 8% no PIB é puxado pela construção dos dois maiores empreendimentos de infra-estrutura energética em curso no país. Santo Antônio, a 10 quilômetros de Porto Velho, já tem até linhas próprias de ônibus para transportar seus operários. Jirau, a mais de 100 quilômetros da cidade, fez explodir a população de um pequeno distrito vizinho à obra.
“Sofremos uma forte pressão sobre nossas florestas. Quando apostamos em uma tecnologia mais inteligente, mostramos que é possível gerar riqueza minimizando os impactos ambientais”, disse ao Portal da RTS o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, que defende a multiplicação do Pais como esforço complementar para abastecer o mercado local de frutas e hortaliças.
Especificidades
“Aqui na Amazônia há dois climas: quente e seco e quente e úmido. Na época das chuvas é preciso vencer a umidade e problemas relacionados a fungos, enquanto na seca a irrigação pode se tornar um problema”, avisa o engenheiro agrônomo do Pais, Otávio Augusto. O verão amazônico(dezembro a abril), avisa, é bom para a produção de folhas, como
cebolinha, coentro, alface e rúcula. Já o inverno (maio a novembro) é melhor para plantar raízes, como beterraba, cenoura e pimenta de cheiro. “A mudança de clima faz com que não haja produto possível para o ano todo, e nisso o Pais também precisa se adaptar”, completa.
O agricultor goiano Durval Pires Batista, em Rondônia desde 1992, diz saber bem destas peculiraridades. Ele afirma ter visto dezenas de agricultores abrindo clareiras na floresta para tentar plantar arroz, feijão, café e outras culturas que já praticavam em seus estados de origem. Em pouco tempo, a fertilidade natural própria das terras da Amazônia estava exaurida, inviabilizando a produção. O calor típico da região e o forte regime de chuvas também tolhiam logo os cultivos nos moldes em que eram trazidos do sul do país. Tudo isso, somado à falta de infra-estrutura para escoar a produção, fez muitos deles deixarem seus lotes de volta para casa.
“Com o orgânico, a gente pode ficar na terra por mais tempo, recuperando o solo. Para quem é pequeno e precisa ficar na mesma terra para viver, faz toda a diferença”, diz Batista, 47 anos, um dos cem beneficiados com a Tecnologia Social no Estado.
Comercialização
O principal gargalo do Pais em Porto Velho, avisa Batista, ainda é a comercialização. De um lado, estão as dificuldades de acesso e infra-estrutura viária típicas da Amazônia. De outro, a falta de “cultura orgânica”. Em Porto Velho, por exemplo, nenhum supermercado faz distinção entre produtos convencionais e orgânicos, dificultando a agregação de valor aos produtos de quem se esforça para não usar agrotóxicos. “Ainda não há diferença de preço nem prateleira separada”, reconhece.
O problema também é sentido pelo agricultor Daniel dos Santos, de 38 anos. “A sobra vai toda para alimentar as galinhas enquanto não chega a comercialização. Aqui são 10 km de estrada de terra, quando chove fica difícil”, conta. Ainda assim, Daniel celebra a chegada do Pais na propriedade de 14 hectares onde está há 16 anos ao lado da mãe. Entre os ganhos, avisa, está a segurança alimentar da família e a mudança na dieta, agora mais diversificada e sem agroquímicos. “Comíamos muito pouco hortaliças. Hoje isso mudou. Aqui já tem coentro, almeirão, alface, rúcula, colve e cebolinha”, conta. Outra vantagem, diz, foi a implementação do quintal agroecológico, onde aproveita para plantar espécies nativas como açaí, pupunha e graviola. “O Pais trouxe uma melhoria de conhecimento pra trabalhar junto com a natureza. Quando a gente juntar todo mundo aqui, vai ficar melhor ainda”.
Ele se refere aos colegas da comunidade de Bom Jesus. Com 42 famílias, das quais 12 já têm o sistema implementado, a comunidade espera se beneficiar da implantação de uma agroindústria de frutas no entorno da comunidade. Além de um caminhão destacado pela prefeitura para fazer a coleta, metade da câmara fria – com capacidade para 5 mil kg de fruta – será dedicada aos produtos oriundos do Pais.
Com capacidade de produzir 250 kg de polpa por hora, o espaço é encarado como um primeiro passo para a agregação de valor e o reconhecimento da produção orgânica. “Isso aumenta o poder de negociação do agricultor, até porque hoje ele é refém de quem compra e não pode comercializar na hora que os preços estão melhores”, diz Nina. Um quilo de polpa de açaí, por exemplo, sai geralmente por R$ 3 o litro. Na entressafra, o preço chega a R$ 7.
Capacitação
Em parceria com o Ministério da Integração Nacional e o Sebrae, a Fundação Banco do Brasil lançou cartilha e DVD com o passo-a-passo para a instalação de uma unidade do Pais. Ambos foram produzidos a partir de entrevistas com agricultores. O DVD, com 20 minutos de duração, contém um vídeo principal com dados gerais sobre o sistema Pais e outros seis módulos detalhando as principais etapas da implantação de uma unidade familiar de produção agroecólogica. São elas: escolha e preparação do terreno; seleção das culturas; demarcação do galinheiro e dos canteiros circulares; construção do galinheiro; preparação dos canteiros; uso de energia; sistema de irrigação por gotejamento; compostagem; quintal agroecológico; associativismo e comercialização.
Acesse o site o site: http://www.rts.org.br/noticias/destaque-1/tecnologia-social-pais-chega-a-ama; e você pode acessar a Cartilha sobre o Sistema Pais – Mais alimento, trabalho e renda no campo e fazer o download do Vídeo sobre o Sistema Pais (em seis partes)
Fonte: www.rts.org.br

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