segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Poemas da semana

América Central

Que lua com uma culatra ensangüentada,
Que ramagem de látegos,
Que luz atroz de pálpebra arrancada
Te fazem gemer sem voz, sem movimento,
Te fazem gemer sem voz, sem boca,
Oh, cintura central, oh, paraíso
De chagas implacáveis.
Noite e dia vejo os martírios,
Dia e noite vejo o acorrentado,
O rubro, o negro, o índio
Escrevendo com mãos batidas e fosfóricas
Nas intermináveis paredes da noite.




Fome no Sul

Vejo o soluço no carvão de Lota
E a enrugada sombra do chileno humilhado
Picar a amarga veia da entranha,morrer,
Viver,nascer na dura cinza
Agachados,caídos como se o mundo
Entrasse assim e saísse assim
Entre pó negro, entre chamas,
E só acontecesse
A tosse no inverno, o passo
De um cavalo na água negra, onde caiu
Uma folha de eucalipto como faca morta.

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