Entrevista especial com Cláudio Arroyo
É com um olhar crítico e detalhista que o professor Cláudio Arroyo analisa, na entrevista a seguir, o crescimento e o desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil. Por e-mail, Arroyo concedeu esta entrevista à IHU On-Line (Instituto Humanitas Unisinos) em que apresentou um panorama atual da economia solidária no Brasil, trazendo os caminhos pelos quais ela passou para chegar ao papel que cumpre hoje. A professor aproveitou também para poder pensar nas perspectivas para a Economia Solidária daqui em diante. "Eu levo o movimento pela Economia Solidária muito a sério, já que para mim não é um meio de remuneração, nem só um objeto de pesquisa. É, sobretudo, uma opção de vida”, confessa.
João Cláudio Tupinambá Arroyo é graduado em Geologia pela Universidade Federal do Pará. É especialista em Executive Marketing pela Fundação Getúlio Vargas e mestre em Economia pela Universidade da Amazônia. Atualmente, é professor na Faculdade do Pará e na Faculdade Ideal. É também Geral de Planejamento e Gestão Estratégica na Agência de Desenvolvimento da Amazônia.
Confira um pedaço da entrevista.
IHU On-Line – Qual o panorama atual da Economia Solidária no Brasil hoje?
Cláudio Arroyo – Vou entender sua referência à Economia Solidária em sua dimensão mais abrangente, a de Movimento Social. Dimensão que entendo ser produto da amálgama da fusão de, pelo menos, quatro frentes de expressão: a Social, a Econômica, a Política e a Cultural.
Na frente social, base demográfica do movimento, supomos, por intuição e observação empírica, que a parcela dos trabalhadores que se sustentam efetivamente a partir de relações de cooperação e autonomia no Brasil ainda é muito pequena. Não há nem indicadores que possam fornecer uma aproximação da realidade a qual nos referimos. Fazendo um exercício de estimativa livre, podemos inferir que somos, como nação, uma comunidade que se aproxima de 200 milhões de pessoas, todas consumidoras, com renda média de 820 reais por indivíduo, sendo que, deste total, temos algo em torno de 70 milhões economicamente ativos. Com o desemprego em torno de 6 a 7%, tomemos cerca de 64 milhões de brasileiros com vida produtiva efetiva. Se buscarmos maior especificidade e tomarmos os trabalhadores por "conta própria”, temo no Brasil cerca de 25 milhões de pessoas segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Outra referência, poderia ser os cerca de 7,6 milhões de associados em cerca de oito mil cooperativas no Brasil, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. Mas quantas destas, na verdade, são cooperativas de empresários? No congresso da União e Solidariedade das Cooperativas Empreendimentos de Economia Social do Brasil – Unisol estiveram 82 empreendimentos solidários, entre cooperativas e associações e, na União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes estão cerca de 1100 cooperativas. Então, a primeira questão é analisar quantas pessoas produzem e/ou consomem tendo majoritariamente relações em cooperação e autonomia. Quantos destes 64 milhões de trabalhadores produzem sob os princípios da Economia Solidária? Quantos destes 820 reais de cada brasileiro é consumido na Economia Solidária?
No primeiro mapeamento da Economia Solidária no Brasil, feita pela Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes, foram identificados 19.954 empreendimentos em 2.274 municípios, correspondendo a 41% do total de municípios do país. Estão associados a esses mais de 1 milhão e 250 mil homens e mulheres e 25 mil trabalhadores e trabalhadoras não sócios. Mas o segundo mapeamento que ainda está em processamento deverá trazer algumas mudanças corretivas importantes, até porque há ainda um outro desafio correlato: o de conceituar "relação econômica em cooperação e autonomia”. Por exemplo, não há consenso se um grupo associado de feirantes tradicionais seriam incluídos, ou não, nesta categoria. Assim como sabemos que não é em toda cooperativa de trabalhadores que se pratica cooperação e autonomia para valer, já que em várias a figura do/da presidente é apenas a pele sob a qual se esconde um patrão ou patroa. Portanto, mesmo sem os números de que precisamos, entendo ser razoável supor que temos pela frente mais de 98% do espaço social brasileiro ainda a ser conquistado. Ou seja, precisamos tomar consciência de que tudo o que temos, hoje, é muito importante. Porém, ainda é muito pouco sociologicamente.
Ele ainda fala sobre: A frente econômica; - A frente política; - A frente cultural; - A Economia Solidária pode ser entendida como um movimento político? A base social que sustenta a Economia solidária hoje no Brasil tem ciência desse projeto político?; - Como ela pode ajudar a tecer outras perspectivas dentro do modelo capitalista e concentrador de riquezas em que vivemos?; - Pode-se dizer que a Economia Solidária é uma reação a esse modelo capitalista de economia? Em que sentido?; – Em que aspectos ela dá oportunidade e valoriza as iniciativas de renda das pessoas de estratos sociais menos abastados?; – Em que medida ela estimula um consumo ético e, portanto, preocupado com a sustentabilidade do planeta? - A Economia Solidária tem crescido bastante nos anos 2000. Que fatores permitiram esse crescimento?; – Que segmentos sociais são representados politicamente pela Economia Solidária?; – Qual o grau de autonomia política há dentro do movimento pela Economia Solidária?;
Confira toda a entrevista no site da ADITAL
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=56578
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